SPCD, A História: Quarto Capítulo

Oi pessoal...

Enfim chegamos naquela parte que podemos perguntar aquelas curiosidades que temos muita vontade de saber sobre uma companhia de dança, mas que nem sempre temos essa chance... E a Marcela foi muito gentil em respondê-las! Algumas foram respondidas pela própria Inês Bogéa, diretora da companhia, e que me foram enviadas posteriormente, pois ela teve uma reunião e infelizmente não pode estar presente no dia em que fui visita-los...
Vamos em frente?

Tudo o que Você Queria Saber sobre a SPCD...

Julimel: Como é o dia-a-dia da Cia?
Marcela: Os bailarinos tem uma rotina diária de 6 horas de corpo, entre aulas e ensaios, e 2 horas para estudo teórico, ligado à História da Dança, História da Música, etc. Na parte da manhã, os bailarinos fazem aula de ballet, depois tem um intervalo e na parte da tarde eles partem para os ensaios.

Julimel: Como é o processo de escolha das obras que integram o repertório da Cia?  E qual o critério usado para a escolha das peças que serão apresentadas a cada espetáculo?
Inês: A escolha das peças depende de vários fatores, entre eles, a forma como esta nova peça se encaixa no repertório da Companhia para criar sentidos dentro da programação; a possibilidade de apresentação destas obras em espaços distintos, o desafios e crescimento técnico e artístico de seus integrantes, a escolha de criadores que dialoguem com a linguagem e a estética da Companhia. As peças postas lado a lado estabelecem relações, criam novos sentidos. Ao mesmo tempo em que conservam suas características, assumem propriedades do presente na interpretação dos bailarinos da Companhia.
A cada espetáculo levo em conta além das questões artísticas, as condições técnicas dos espaços onde nos apresentaremos e se estivermos participando de um Festival ou Mostra, é fundamental o diálogo com o evento para a escolha das coreografias que serão apresentadas.
Levamos em conta também que no Brasil não há tradição de apresentações de obras canônicas da dança, como o repertório clássico do século XX. Ao levar estas obras e suas criações inéditas para o público das diferentes regiões do país a Companhia propicia amplo acesso aos bens culturais da humanidade.
Cena de Serenade
Estreada em 2008 pela SPCD

Julimel: Qual o tempo permitido para que essas obras possam ser encenadas?
Marcela: Não há um tempo definido, ele varia de contrato para contrato. As únicas regras que existem a cerca desse assunto é que a remontagem de uma obra dure cinco semanas, que é um padrão internacional de montagem/remontagem, e que venha um remontador autorizado, pois assim os bailarinos podem aprender com maior riqueza de detalhes a intensão de cada gesto contido nas coreografias. Quando o remontador chega ele traz um olhar particular para aquela peça, e depois de um tempo nós o convidamos novamente para que ele possa assistir a obra e ver se ela realmente está sendo fiel à primeira montagem. Nós fizemos isso recentemente com Gnawa, que entrou no repertório da SPCD em 2009. Ele assistiu à peça e fez alguns ajustes, mexeu no elenco, tudo para que possamos continuar levando a obra para o público de acordo com os padrões originais.

Julimel: Qual o critério usado para a escolha dos bailarinos que dançarão a cada espetáculo?
Marcela: Quem escolhe o elenco de cada peça é o coreógrafo/remontador. Ele recebe uma folha com as fotos de todos os bailarinos com nome, para ele saber quem é quem, e os processos são variados: às vezes ele já vem com uma ideia pré-definida e testa os bailarinos para ver se eles se enquadram no perfil daquela peça, às vezes ele pede pra assistir a aula de ballet e aí ele faz a seleção, às vezes ele quer assistir a companhia dançar trechos do repertório atual, e às vezes ele quer experimentar a movimentação dele diretamente no corpo dos bailarinos. Cada profissional traz a sua particularidade, e é aí que se cria o 1º e 2º elencos, sempre ancorados na direção, mas com o olhar que aquela pessoa traz para aquela montagem naquele momento. É muito engraçado quando o elenco de uma peça está para ser divulgado: todos, sem exceção, ficam ansiosos para saber o resultado, se parece muito com aquelas audições para a escolha dos atores de um filme! E quando nós finalmente sabemos quem foi escolhido muitas vezes nós temos ótimas surpresas!
Cena de Gnawa
Crédito: João Caldas

Julimel: Como uma grande amante do Ballet, eu sinto muita falta de ver as Cias brasileiras, no geral, montarem peças clássicas (obras imortais). Uma das poucas que ainda tem essa tradição é o Ballet do Municipal do Rio de Janeiro. Eu gostaria de saber se há algum projeto futuro que possa trazer montagens completas de peças como "O Quebra-Nozes" ou "Giselle" para a SPCD?
Marcela: Recentemente nós remontamos dois grand pas de deux clássicos, O Quebra-Nozes e Dom Quixote, e nós temos planos sim de trazer repertórios completos futuramente. Eu só não posso afirmar exatamente quando, mas é um projeto que nós temos em mente. O que nos dificulta a princípio é o fato de que nós não temos uma “casa”, uma estrutura que comporte uma grande montagem, impedindo até mesmo que a gente possa circular com ela. Pode ser que esteja perto...

Quando a Marcela fez essa colocação – pode ser que esteja perto... – eu não imaginava que estivesse tão perto assim...
Eis que no começo do ano eu estou passeando pelo face e de repente vejo que eles têm programado duas semanas de apresentação de nada menos que Romeu e Julieta!!! Vocês podem imaginar a minha alegria quando eu soube que eles vão enfim montar o primeiro repertório completo da história da companhia?
A obra de Prokofiev simplesmente me encanta! De acordo com as palavras de Sir Kenneth MacMillan, “a partitura de Prokofiev é um verdadeiro retrato musical da obra de Shakespeare”. E é verdade! Basta escutar para ver cada cena transformada em música com perfeição!
A montagem da obra para a SPCD está nas mãos do coreógrafo italiano Giovanni di Palma, mas até agora o estilo que ela vai ter é um mistério para todos! Será que vai ser Neoclássica? Moderna? Contemporânea? Cá entre nós, torço pela primeira opção, até porque Romeu e Julieta de Prokofiev tem essa classificação por natureza. Mas isso nós só vamos descobrir em novembro, no Teatro Sérgio Cardoso. Os ingressos já estão à venda pelo site ingressorápido e também na bilheteria do teatro. Eu já garanti o meu, e vocês?
Luiza Lopes e Diego de Paula em Grand Pas de Deux de O Quebra-Nozes
Crédito: Silvia Machado

Julimel: Todos os anos tem audição para a admissão de novos bailarinos para a Cia. O número de bailarinos que são escolhidos ao final do processo é definido desde o princípio ou esse número se define durante a própria seleção?
Marcela: Depende. Às vezes nós temos o número exato de quantos bailarinos nós podemos contratar, às vezes vai depender da própria audição e às vezes também depende do andamento da companhia. Todos os bailarinos são contratados por regime CLT, com registro em carteira, férias, 13º, e os contratos são revistos anualmente. Há bailarinos que estão aqui desde o começo, mas também há uma rotatividade, pois alguns acabam não se enquadrando no perfil da companhia, e outros não conseguiram encontrar dentro do nosso repertório o que eles realmente estavam buscando profissionalmente. Para participar da seleção os bailarinos precisam ser maior de 18 anos, é preferencial ter DRT, e todos passam por uma triagem inicial: análise de curriculum, foto e vídeo. Os selecionados passam para a próxima etapa, que é a audição propriamente dita.

Julimel: E qual a mensagem que vocês deixam para aqueles estão nessa busca em se tornar bailarinos profissionais, seja para quem está começando na área ou para quem já está na ativa há algum tempo?
Inês: Que continuem seguindo os seus sonhos e encontrando múltiplas maneiras de dançar.

Última Audição da SPCD, ocorrida em Ludwigshafen (Alemanha)

Meses depois que eu estive na companhia eu lembrei de outra pergunta que eu simplesmente esqueci de fazer na ocasião: Porque a SPCD não tem a chamada “hierarquia de bailarinos”, assim como nas companhias mais tradicionais? Mas essa aqui vai ficar pra uma próxima oportunidade...

E preparem-se pessoal, pois amanhã teremos o "Grand Finale"!

*Entrevista com Marcela Benvegnu, Coordenadora de Educativo, Memória e Comunicação, realizada em 29/10/2012 na sede da SPCD, em São Paulo/SP

Comentários

  1. A princípio eu pensava que a falta de hierarquia era devido a uma visão mais humanista na construção do relacionamento com o elenco, porém, o fato é que eu ouvi de um integrante da direção da SPCD é que não há disponibilidade de verba prevista para diferenciar os salários e assim criar uma hierarquia, já que pela CLT cargos hierarquicamente diferentes não podem ter o mesmo salário, ou algo do gênero, já que não sou especialista na área.

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